Como te descreves?
Não é uma pergunta fácil, mas posso dizer que me considero uma pessoa com muita energia, com uma enorme força de vontade e com um bom coração. Sinto-me um privilegiado na vida que estou a ter, e como tal também sinto a obrigação de canalizar esta energia e força de vontade de forma a poder contribuir para um futuro melhor.
Como entrou o bodyboard na tua vida?
De uma forma natural, desde criança que um dos programas da minha família era ir para a praia, quase sempre para Leça da Palmeira, até porque o meu avô trabalhava na APDL, e portanto sempre houve essa relação com a praia e com o mar. Num desses dias em que a família estava reunida na praia os meus primos entraram para dentro de água com pranchas de Bodyboard, eles até faziam umas ondas. Nesse momento tive um click, uma vontade enorme de explorar aquilo.
Comecei a fazer parte dos grupos de pessoal quer do Porto quer de Leça que faziam Bodyboard, rapidamente passei à competição, viagens, patrocinadores, conhecer o mundo, pessoas, culturas, conhecer-me a mim. Portanto o Bodyboard entrou na minha vida de uma forma natural mas direcionou-a completamente e moldou uma grande parte da minha personalidade.
O que é para ti um estilo de vida saudável?
Um estilo de vida saudável para mim significa antes de mais um equilíbrio entre saúde física, mental, emocional, e o propósito da nossa vida. Eu acho que de uma forma geral temos uma visão incompleta do que é a saúde, compartimentamos tudo, em vez de olharmos como um todo.
A maior parte dos atletas que compete a um nível alto sabe que estas dimensões estão ligadas, por exemplo, eu posso estar tecnicamente super treinado, fisicamente no topo de forma, no entanto se estiver deprimido ou ansioso, não vou render o mesmo. E a depressão e a ansiedade são pensamentos que se transformam em emoções, e que a um nível agudo se manifestam no corpo físico. Portanto, saber tratar do corpo (através do movimento, nutrição, hidratação e descanso), saber tratar da mente (dos pensamentos através de práticas como a meditação), saber tratar das nossas emoções (através do desenvolvimento de capacidades intra-pessoais e inter-pessoais), e seguirmos um caminho que nos preencha, que para nós faça sentido, é a matriz do que considero uma vida saudável.
És um homem de rotina? Se sim o que é que esta inclui?
Posso dizer que não sou uma pessoa de rotina fixa. Tento no meu dia a dia ir seguindo as vontades que tenho e reagindo ao que vai surgindo, e esse é um dos meus pontos de equilíbrio. No entanto, durante uma semana há uma série de atividades que costumo simplesmente fazer sem rigidez quer de ordem ou de horário. Quase todas as semanas entro no mar, nado em piscina, desenvolvo projetos que criei ou que estou envolvido, faço yoga, medito, estou com família, estou com amigos, ligo-me à natureza, e por aí fora. Na verdade acho que aprendi a ouvir o corpo e a perceber o que faz mais sentido fazer.
Temos seguido de perto o teu projeto de educação, queres falar um pouco disso?
Foi algo que nunca ambicionei, mas que surgiu de repente e com muita força. E ao perceber que era importante, comecei a estudar educação - a pública, os modelos alternativos, o que se faz lá fora, a seguir pedagogos, filósofos, a visitar escolas, e a falar com amigos professores. O que estou a fazer é criar um modelo simples e replicável, que ligue a educação tradicional à educação alternativa. Esta relação está quebrada, e eu acredito que o caminho seja a integração. Como? Criando um equipamento, um centro, que preste serviços às escolas através da implementação de programas alternativos que potenciem o retorno ao Ser e à natureza. Criando também uma equipa de colaboradores preparados não só para ensinar crianças mas também para formar professores.
O espaço fica em Serralves, no Porto, neste momento a maior parte das demolições estão feitas, já tem horta, galinhas, vermicompostagem, as obras na casa onde vamos morar vão arrancar, e o projeto de licenciamento da escola está a ser preparado para dar entrada. Acho que a educação é o grande tema do futuro, mais do que AI ou tecnologia. Estamos a criar crianças para um futuro desconhecido e não nos podemos continuar a reger por um modelo estagnado há mais de um século e meio, porque isso significaria privá-las do potencial de desenvolvimento das suas capacidades humanas, criativas e adaptativas que permitirão resolver os problemas do futuro.
O que achaste do teu primeiro Deeply Together?
Na verdade, eu até consideraria este como o segundo, porque quando a equipa se juntou no Alentejo este espírito esteve presente, e foi mesmo altamente. A Deeply está comprometida com uma mudança. A mudança de ownership surgiu juntamente com uma vontade de ser mais do que apenas uma marca de surf. Pretende difundir o bem-estar, o sentido de comunidade. E isto é um caminho novo para a marca, desafiante e excitante.
Acho que este Deeply Together foi de uma forma muito honesta isso, um grupo de pessoas com grande ligação ao mar, a conhecer-se, a ligar-se, a trocar ideias, movimentar o corpo de forma saudável, e a apanhar ondas juntos.